Um tempo sem nome

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Com seu cabelo cinza, rugas novas e os mesmos olhos verdes, cantando madrigais para a moça do cabelo cor de abóbora, Chico Buarque de Holanda vai bater de frente com as patrulhas do senso comum. Elas torcem o nariz para mais essa audácia do trovador. O casal cinza e cor de abóbora segue seu caminho e tomara que ele continue cantando “eu sou tão feliz com ela” sem encontrar resposta ao “que será que dá dentro da gente que não devia”.

Afinal, é o olhar estrangeiro que nos faz estrangeiros a nós mesmos e cria os interditos que balizam o que supostamente é ou deixa de ser adequado a uma faixa etária. O olhar alheio é mais cruel que a decadência das formas. É ele que mina a auto-imagem, que nos constitui como velhos, desconhece e, de certa forma, proíbe a verdade de um corpo sujeito à impiedade dos anos sem que envelheça o deslumbramento diante da vida.
Proust, que de gente entendia como ninguém, descreve o envelhecer como o mais abstrato dos sentimentos humanos. Não fora o entorno e seus espelhos, netos que nascem, amigos que morrem, não fosse o tempo “um senhor tão bonito quanto à cara do meu filho“, segundo Caetano, quem, por si mesmo, se perceberia envelhecer? Morreríamos nos acreditando jovens como sempre fomos.
A vida sobrepõe uma série de experiências que não se anulam, ao contrário, se mesclam e compõem uma identidade. O idoso não anula dentro de si a criança e o adolescente, todos reais e atuais, fantasmas saudosos de um corpo que os acolhia, hoje inquilinos de uma pele em que não se reconhecem. E, se é verdade que o envelhecer é um fato e uma foto, é também verdade que quem não se reconhece na foto, se reconhece na memória e no frescor das emoções que persistem. É assim que, vulcânica, a adolescência pode brotar em um homem ou uma mulher de meia-idade, fazendo projetos que mal cabem em uma vida inteira.
Essa doce liberdade de se reinventar a cada dia poderia prescindir do esforço patético de camuflar com cirurgias e botoxes — obras na casa demolida — a inexorável escultura do tempo. O medo pânico de envelhecer, que fez da cirurgia estética um próspero campo da medicina e de uma vendedora de cosméticos a mulher mais rica do mundo, se explica justamente pela depreciação cultural e social que o avançar na idade provoca.
Ninguém quer parecer idoso, já que ser idoso está associado a uma sequência de perdas que começam com a da beleza e a da saúde. Verdadeira até então, essa depreciação vai sendo desmentida por uma saudável evolução das mentalidades: a velhice não é mais o que era antes. Nem é mais quando era antes. Os dois ritos de passagem que a anunciavam, o fim do trabalho e da libido, estão, ambos, perdendo autoridade. Quem se aposenta continua a viver em um mundo irreconhecível que propõe novos interesses e atividades. A curiosidade se aguça na medida em que se é desafiado por bem mais que o tradicional choque de gerações com seus conflitos e desentendimentos. Uma verdadeira mudança de era nos leva de roldão, oferecendo-nos ao mesmo tempo o privilégio e o susto de dela participar.
A libido, seja por uma maior liberalização dos costumes, seja por progressos da medicina, reclama seus direitos na terceira idade com uma naturalidade que em outros tempos já foi chamada de despudor. Esmaece a fronteira entre as fases da vida. É o conceito de velhice que envelhece. Envelhecer como sinônimo de decadência deixou de ser uma profecia que se autorrealiza. Sem, no entanto, impedir a lucidez sobre o desfecho.
”Meu tempo é curto e o tempo dela sobra”, lamenta-se o trovador, que não ignora a traição que nosso corpo nos reserva. Nosso melhor amigo, que conhecemos melhor que nossa própria alma, companheiro dos maiores prazeres, um dia nos trairá, adverte o imperador (Adriano em suas memórias escritas por Marguerite Yourcenar).
Todos os corpos são traidores. Essa traição, incontornável, que não é segredo para ninguém, não justifica transformar nossos dias em sala de espera, espectadores conformados e passivos da degradação das células e dos projetos de futuro, aguardando o dia da traição.
– Chico, à beira dos setenta anos, criando com brilho, ora literatura , ora música, cantando um novo amor, é a quintessência desse fenômeno, um tempo da vida que não se parece em nada com o que um dia se chamou de velhice. Esse tempo ainda não encontrou seu nome. Por enquanto podemos chamá-lo apenas de vida.
Texto da escritora ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA, foi publicado em O Globo em 21/01/12 – NG Canela – Abril de 2012



O sorvete de baunilha

Post (0073)

Não importa quanto “louco” você possa achar que alguns possam ser, eles podem estar certos!”

Essa é uma historia verídica, relata uma queixa foi recebida pela Divisão Pontiac da General Motors, veja o que aconteceu:

“- Esta é a segunda vez que esorvetedebaunilahau escrevo para vocês e não os culpo por não responder, posso parecer louco, mas o fato que nós temos o hábito em nossa Família comer sorvete como sobremesa após o jantar. O tipo de sorvete varia. Toda noite, após termos jantado, vota-se em um sabor de sorvete e eu me dirijo até a loja para comprá-lo.
– Recentemente comprei um Pontiac e desde então minhas idas a loja tem sido um problema. Veja você, toda vez que eu compro sorvete de baunilha, quando eu volto da loja para minha casa, o carro falha. Se eu levo qualquer outro tipo de sorvete, o carro funciona bem.
– Saibam vocês que estou sendo sério em relação a esta questão, não importa quão tola ela pareça. O que acontece com o Pontiac que não funciona quando eu compro sorvete de baunilha ? E funciona toda vez que compro outro sabor .”
O presidente da Pontiac ficou curioso e enviou um engenheiro para checar o assunto. Este ao chegar foi recebido pelo cliente e inteirado do que estava acontecendo. Combinaram se encontrar logo após o jantar. Os dois entraram no carro e foram até a loja de Pontiac_Catalinasorvetes. Até aqui tudo bem.
O sorvete escolhido foi o de baunilha, certo que depois que retornassem ao carro, ele não iria funcionar. O que efetivamente aconteceu.
O engenheiro retornou por mais três noites…
Na primeira noite escolheu o sabor chocolate. O carro funcionou. Na segunda escolheu morango. O carro funcionou.Na terceira ele pegou o de baunilha e o carro falhou.
O engenheiro, um homem lógico, recusou-se em acreditar que o carro era alérgico a sorvete de baunilha ! Então combinou de continuar as suas visitas até resolver o problema.
Investigou, anotou tudo, hora do dia, tipo de combustível usado, modo de dirigir, etc. Em pouco tempo, ele tinha uma pista: – O homem levava menos tempo para comprar o sorvete de baunilha do que qualquer outro.
Por quê? – A resposta estava na disposição da loja. Baunilha, sendo o sabor mais popular, estava numa caixa separada na frente da loja para ser pego rapidamente. Os outros sabores eram mantidos nos fundos da loja, noutro balcão, onde se demorava mais para pega-los. Agora a pergunta era: – Por que o carro não queria funcionar quando se levava menos tempo?
– Lógico que não era o sorvete de baunilha.

O engenheiro rapidamente encontrou a resposta: – A saída do vapor da combustão. O tempo extra para pegar os outros sabores deixava o motor esfriar o suficiente para funcionar. No caso do sorvete de baunilha, o motor ainda estava quente para o vapor ser dissipado e falhava”.

Até os problemas que parecem mais banais ás vezes são válidos, então, nunca devemos subestimar, ou dispensar um problema em potencial relatado por um cliente, procure sempre uma solução.

Autor desconhecido – resumido – NG Canela – Maio de 2011