Fábula do abridor de latas

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– Existe umabridor de latas utensílio chamado “Abridor de latas”, lembras?
– Eu imaginava ser esta uma ferramenta em extinção.
– Desde que foi inventado em 1855 pelo inglês Robert Yates, tem servido para abrir latas. O curioso da história é que ele só foi inventado 42 anos depois das primeiras latas de conservas, que surgiram em 1813.
– Como o meu é bastante antigo, resolvi, meio sem esperanças de encontrar, procurar um modelo novo na internet – Para espanto meu aparecerem aproximadamente 110.000 resultados para a pesquisa – Tem de tudo: Tipos manuais, elétricos, eletrônicos, a pilha e até um que dizem abrir sozinho, as latas, e também muitas histórias  – selecionei esta entre outras:
Fábula do abridor de latas
– Um dia, a família tomou uma decisão: Economizar tempo, comer só enlatados, a saúde foi para escanteio e as latas invadiram a casa, no almoço, no lanche, na janta, na comida do cachorro e…
– Foi então que ele apareceu.
– Deixando seu canto empoeirado para estrelar no lar. Chegou por cima, importante, sentia-se o rei da cozinha, mais importante que as facas e colheres que só tomam partido após as latas serem abertas. De esquecido passou a astro nas horas das refeições.
– O nanico de metal passou a se sentir grande e forte, além de útil, um pouco presunçoso, talvez – Útil era uma palavra pequena para ele, diante da importância e destaque que alcançara – Era talentoso e até umas garrafas passou a abrir – Elogiado pelo pai, louvado pela mãe, acariciado pelas mãos bem hidratadas da filha adolescente, requisitado como brinquedo pelo filho mais novo, que teimava em brincar de aviãozinho e, aliás, quando sumia, era um Deus nos acuda.
– Foram dias mágicos, até que a família tomou uma nova decisão, para sua maior comodidade – Resolveram comer fora.
– E o abridor de latas voltou para o fundo da gaveta, esquecido.
– Veja você, quando necessário, respondeu desempenhando bem a sua função, com criatividade e presteza, sendo rapidamente descartado quando não precisaram mais dele – Afinal era apenas um utensílio – E você ?

Autor desconhecido – NG Canela – Julho de 2009




O Milho, a Pipoca e o Piruá

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Imagine o milho de pipoca dentro da panela, que vai ficando cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou. Dentro de sua casca dura, fechado em si mesmo, não imagina destino diferente. Não imagina a transformação que está porvir. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece:

PUM! – e aparece uma outra coisa completamente diferente que ele mesmo nunca havia sonhado, vira Pipoca.

– A transformação do milho duro em pipoca macia é o símbolo da grande transformação pela qual devemos passar para que venhamos a ser o que devemos ser.

O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele é o que acontece depois do estouro. O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.
As grandes transformações só acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito a vida inteira, uma mesmice e uma dureza assombrosa, achado que o seu jeito de ser é o melhor.
De repente, vem o fogo. A vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: Pode ser fogo de fora: perder um amor, ficar doente, perder o emprego ,… Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, …

– Há sempre um remédio, apagar o fogo, sem fogo o sofrimento diminui. Transformado-nos em um Piruá.

Piruá é o milho de pipoca que se recusa estourar. São os que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Acham que não pode existir coisa melhor que seu jeito de ser. A sua presunção e o medo é a dura casca que não estoura. Seu destino é ficar duro à vida inteira, sem se transformar na flor branca, macia e dar alegria para alguém.

– Terminado o estouro alegre das pipocas, no fundo da panela ficam os Piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Texto de Rubem Alves – Do livro “O Amor que acende a lua” – Adaptado
NG Canela – 16 de julho 2009