Um plano genial

Barão de Itararé 4
Vale muito a pena ler …

Post (0018)

Joaquim estava desempregado e lutava com dificuldades. A sua situação ainda mais se agravava pelo fato de ter que dar assistência a um filho, inexperiente que também estava no desvio, porém, defendia-se como um autêntico leão.
O seu cérebro, torturado pela miséria, era fértil e brilhante, engendrando planos verdadeiramente geniais, graça, aos quais sempre se safava das aperturas diárias com que o destino o torturava.
Naquele dia, o seu “grude” já estava garantido. Recebera convite para um banquete de um alto figurão que estava necessitando de claque. Mas o nosso herói não estava satisfeito, porque não conseguira um convite para o filho.
À hora marcada, acompanhado do rapaz, dirige-se para o salão, onde se celebraria a cerimônia. Antes de entrar, diz a seu filho faminto:
– Fica firme aqui na porta, porque preciso dar um jeito de que tu também tomes parte no festim.
Já estavam todos os convidados sentados nos lugares, na grande mesa quando, Joaquim levanta-se e exclama:
– Senhores, em vista da ausência do Sr. Vigário, tomo a liberdade de benzer a mesa – Em nome do Padre e do Espírito Santo!
– E o filho? – perguntou-lhe um dos convidados.
– Está na porta – responde prontamente. E, voltando-se para o rapaz, ordena, autoritário e enérgico:
– Entra de uma vez, menino! Não vês que estes senhores te estão chamando?
Texto extraído do livro “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly) – Rio de Janeiro, 1985.

NG Canela – Julho 2009




O único animal

Post (0005)

O homem é o único animal que ri dos outros,
Que passa por outro e finge que não vê e
Que acha que Deus é parecido com ele.

Mas é o único …cartoon_do_luis_fernando_verissimo
que se veste,
que veste os outros,
que faz sexo escondido,
que senta e cruza as pernas,
que pensa que é eterno, sabendo que vai morrer,
que não tem uma linguagem comum a toda a espécie,
que se compara com os outros e
que faz leis e não as cumpre.

Não é o único que mata, mas é o único que manda matar,

Não é o único que voa, mas é o único que paga por isto.
Não é o único que engole sapos, nas é o único que não faz isso pelo valor nutritivo.

Não é o único que constrói uma casa, mas é o único que passa o resto da vida pagando.
Que trai, poliu e aterroriza, mas é o único que se justifica.

É o único não escolhe seus líderes entre os mais fortes e capazes.
É o único que escreve mesmo sabendo que na maioria das vezes não será lido.

Texto de Luiz Fernando Veríssimo, publicada em uma revista semanal em 12/11/1986, resumido – Maio de 2009 – NG Canela