Viver ou juntar dinheiro

CofrinhoPost (0249)

“- Prezado amigo, tenho 69 anos, e pertenço a uma geração azarada.
– Quando eu era jovem as pessoas diziam em escutar os mais velhos, que eram mais sábios agora me dizem que tenho de escutar os jovens porque são mais inteligentes.
– Na semana passada eu li numa revista um artigo no qual jovens executivos davam receitas simples e práticas para qualquer um ficar rico.
– E eu aprendi muita coisa. Aprendi por exemplo, que se eu tivesse simplesmente deixado de tomar um cafezinho por dia, durante os últimos 40 anos, eu teria economizado R$ 30.000,00. Se eu tivesse deixado de comer uma pizza por mês teria economizado R$ 12.000,00 e assim por diante.
– Impressionado peguei um papel e comecei a fazer contas, e descobri para minha surpresa que hoje eu poderia estar milionário. Bastava eu não ter tomado as caipirinhas que eu tomei, não ter feito muitas das viagens que fiz, não ter comprado algumas das roupas caras que eu comprei, e principalmente não ter desperdiçado meu dinheiro, em itens supérfluos e descartáveis.
– Ao concluir os cálculos percebi que hoje eu poderia ter quase R$ 500.000,00 na conta bancária. É claro que eu não tenho este dinheiro.

– Mas se tivesse sabe o que este dinheiro me permitiria fazer? Viajar, comprar roupas caras, me esbaldar com itens supérfluos e descartáveis, comer todas as pizzas que eu quisesse e tomar cafezinhos à vontade. Por isso acho que me sinto feliz em ser pobre. Gastei meu dinheiro com prazer e por prazer. – E recomendo aos jovens e brilhantes executivos, que façam a mesma coisa que eu fiz. Caso contrário eles chegarão aos 69 anos com um monte de dinheiro, mas sem ter vivido a vida. “

Mensagem muito interessante encontrada por Max Gehringer na CBN – NG Canela – Fevereiro de 2014.




Peripatético

Post (0098)

Numa das empresas em que trabalhei, eu fazia parte de um grupo de treinadores. Éramos coordenados pelo chefe de treinamento, o professor Lima, e tínhamos até um lema: “Para poder ensinar, antes é preciso aprender” (copiado, se bem me recordo, de uma literatura do Senai). Um dia, nos reunimos para discutir a melhor forma de ministrar um curso para cerca de 200 funcionários. Estava claro que o método convencional – Botar todo mundo numa sala – Não iria funcionar, já que o professor insistia na necessidade da interação, impraticável com um público daquele tamanho.

Como sempre acontece nessas reuniões, a imaginação voou longe do objetivo, até que, lá pelas tantas, uma colega propôs usarmos um trecho do Sermão da Montanha como tema do evento. E o professor, que até ali estava meio quieto, respondeu de primeira. Aliás, pensou alto:

– Jesus era peripatético.

Seguiu-se uma constrangida troca de olhares, mas, antes que o hiato pudesse ser quebrado por alguém com coragem para retrucar a afronta, dona Dirce, a secretária, interrompeu a reunião para dizer que o gerente de RH precisava falar urgentemente com o professor. E lá se foi ele, deixando a sala à vontade para conspirar.

– Não sei vocês, mas eu achei esse comentário de extremo mau gosto – Disse a Laura.

– Eu nem diria de mau gosto, eu diria ofensivo mesmo – Emendou o Jorge, para acrescentar que estava chocado.

– Talvez o professor não queira misturar religião com treinamento – Ponderou o Sales, que era o mais ponderado de todos. – Mas eu até vejo uma razão para isso., É óbvio que ele é ateu.

– Não diga!

– Digo. Quer dizer, é um direito dele. Mas daí a desrespeitar a religiosidade alheia.

Cheios de fúria, malhamos o professor durante uns dez minutos e, quando já o estávamos sentenciando à fogueira eterna, ele retornou. Mas nem percebeu a hostilidade. Já entrou falando:

– Então, como ia dizendo, podíamos montar várias salas separadas e colocar umas 20 pessoas em cada uma. É verdade que cada treinador teria de repetir a mesma apresentação várias vezes, mas. – Por que vocês estão me olhando desse jeito?

– Bom, falando em nome do grupo, professor, essa coisa aí de peripatético, veja bem.

– Certo! Foi daí que me veio a idéia. Jesus se locomovia para fazer pregações, como os filósofos também faziam, ao orientar seus discípulos. Portanto a sugestão de usar o Sermão da Montanha foi muito feliz.

– Peripatético quer dizer “o que ensina caminhando”.

E nós ali, encolhidos de vergonha.

Bastaria um de nós ter tido a humildade de confessar que desconhecia a palavra que o resto concordaria e tudo se resolveria com uma simples ida ao dicionário.

Isto é, para poder ensinar, antes é preciso aprender. Finalmente, aprendemos. Duas coisas.

– A primeira é que o fato de todos estarmos de acordo não transforma o falso em verdadeiro.

E a segunda é que a sabedoria tende a provocar discórdia, mas a ignorância é quase sempre unânime.

Artigo escrito por Max Gehringer publicados na Revista VOCÊ S/A – NG Canela – Agosto 2010