O sentido da vida

Post (0020)

As sandálias do discípulo faziam barulho nos degraus da escada que levava aos porões do velho mosteiro. Lá vivia um homem muito sábio. O jovem empurrou a pesada porta, entrou demorando um pouco para acostumar-se com a pouca luminosidade. Finalmente, ele localizou o ancião sentado tendo um capuz a lhe cobrir parte do rosto, fazendo anotações num grande livro.

– Mestre, qual o sentido da vida? Perguntou aproximando-se.

O monge permaneceu em silêncio. Apenas apontou para um pedaço de pano no chão junto à parede abaixo da estante e depois para o alto.

Mais do que depressa, o discípulo pegou o pano, subiu algumas prateleiras da estante de livros. Alcançou a vidraça logo acima e retirou a sujeira que impedia sua transparência. O sol inundou a sala, cheia de estranhos objetos, instrumentos e pergaminhos com misteriosas anotações. Cheio de alegria, o jovem disse:

– Entendi, Mestre. Devemos nos livrar de tudo aquilo que não permita o nosso aprendizado. Retirar o pó dos preconceitos e as teias das opiniões que impedem que a luz do conhecimento nos atinja. Só então poderemos enxergar as coisas com mais nitidez. E retirou-se.

O velho monge, sentindo os raios quentes do sol a invadir a sala com uma claridade a que se desacostumara. Viu o discípulo se afastando, sorriu e finalmente falou:

– Mais importante do que aquilo que alguém mostra é o que o outro enxerga. Afinal, eu só queria que ele colocasse o pano no lugar de onde caiu.

Autor desconhecido – NG Canela – Julho 2009




Um plano genial

Barão de Itararé 4
Vale muito a pena ler …

Post (0018)

Joaquim estava desempregado e lutava com dificuldades. A sua situação ainda mais se agravava pelo fato de ter que dar assistência a um filho, inexperiente que também estava no desvio, porém, defendia-se como um autêntico leão.
O seu cérebro, torturado pela miséria, era fértil e brilhante, engendrando planos verdadeiramente geniais, graça, aos quais sempre se safava das aperturas diárias com que o destino o torturava.
Naquele dia, o seu “grude” já estava garantido. Recebera convite para um banquete de um alto figurão que estava necessitando de claque. Mas o nosso herói não estava satisfeito, porque não conseguira um convite para o filho.
À hora marcada, acompanhado do rapaz, dirige-se para o salão, onde se celebraria a cerimônia. Antes de entrar, diz a seu filho faminto:
– Fica firme aqui na porta, porque preciso dar um jeito de que tu também tomes parte no festim.
Já estavam todos os convidados sentados nos lugares, na grande mesa quando, Joaquim levanta-se e exclama:
– Senhores, em vista da ausência do Sr. Vigário, tomo a liberdade de benzer a mesa – Em nome do Padre e do Espírito Santo!
– E o filho? – perguntou-lhe um dos convidados.
– Está na porta – responde prontamente. E, voltando-se para o rapaz, ordena, autoritário e enérgico:
– Entra de uma vez, menino! Não vês que estes senhores te estão chamando?
Texto extraído do livro “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly) – Rio de Janeiro, 1985.

NG Canela – Julho 2009