O quinto dos infernos

Pouca gente sabe, mas a expressão “o quinto dos infernos”, usada quando alguém quer mandar uma pessoa para longe, começou a ser usada em Portugal. E ao contrário do que muitos imaginam, não tem relação com o inferno e sim a um imposto que os brasileiros tinham que pagar que era de 1/5 (20% ou a quinta parte) em peso de ouro a coroa portuguesa.

No século 18 a menos de 200 anos o Brasil tornou-se independente de Portugal e uma das causas foi este alto tributo que era recolhido à realeza.

O apetite fiscal da coroa era tão grande quanto à dificuldade em quitar suas dívidas com a Inglaterra. Portugal pouco produzia além de vinhos e quinquilharias. Comprava dos britânicos quase tudo o que consumia.

Assim, para arrecadar mais e evitar as constantes sonegações por parte da população brasileira, a Coroa portuguesa decidiu, em 1750, cobrar o “quinto” diretamente nas casas de fundição. A riqueza obtida pelo recolhimento do imposto era levada para Portugal em navios que ficaram conhecidos como “Naus dos quintos”.

Vejam senhores, como nos somos ingênuos. Tornamo-nos independentes de Portugal para pagar menos tributos e hoje chegamos a pagar em média de 2/5 (40%) sobre os produtos que consumimos (*), e ainda mais, muitos produtos que são considerados supérfluos como automóveis, combustíveis, bebidas, perfumes, jóias e outros pagam até 3/5.

No entanto há casos de produtos como o óleo diesel, a gasolina e seus derivados que não são supérfluos e sim de uso comum, pois são usados em toda a linha produtiva que alem dos impostos federais ainda pagam impostos estaduais, que somados chegam a valores muito superiores ao antigo 1/5.

A cobrança foi uma das principais causas da Inconfidência mineira, que acabou sendo reprimida pela Coroa em 1789.

Por isso, mandar alguém para os “quintos” na época significava mandar essa pessoa para um lugar longínquo e desconhecido. Você esta pensando em alguém ?…

(*) Em um ano, o brasileiro trabalha cinco meses para pagar impostos. Um mês só para pagar ICMS. Segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), o brasileiro gasta uma média de 150 dias por ano trabalhando somente para pagar impostos. Os tributos comprometeram cerca de 41% da renda dos brasileiros.

Post (318) – Janeiro de 2019




Chega de angústia

Eu poderia desejar-lhe um tradicional “Feliz Natal”, mas isso garantiria dois dias de felicidade. Já votos protocolares de “Boas Festas” se estenderiam por uma semana. Por isso, quero desejar a você algo capaz de perdurar por todo um ano: “Chega de angústia!”

Ansiedade e angústia tornaram-se companheiros indesejados. A ansiedade representa um estado de impaciência, de inquietação, um desejo recôndito de antecipar uma decisão, de abreviar uma resposta, de aplacar expectativas.

A angústia é uma sensação de desconforto, um mal-estar físico que oprime a garganta, comprime o diafragma, acelera o pulso, e um mal-estar psíquico que aflige, agoniza, atormenta.

 A ansiedade é um tempo que não chega; a angústia, um tempo que não vai embora.

Amantes que aguardam pelo encontro é ansiedade; relacionamentos desgastados que não terminam é angústia. A espera pelo resultado de um concurso é ansiedade; ter seu nome classificado em uma lista de espera é angústia. A expectativa do primeiro dia de trabalho é ansiedade; o fim do expediente que demora é angústia.

Ficamos angustiados por opção, por força de nossas próprias escolhas, por causa de coisas e pessoas. Assumimos compromissos financeiros que não podemos saldar, adquirimos bens pelos quais não podemos pagar. Compramos o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para mostrar a quem não gostamos uma pessoa que não somos. E angustiante.

De tanto cultivar a ansiedade, de tanto se permitir a angústia, colhemos a depressão. Então lançamos mão de um comprimido e fingimos estar tudo bem.

Por isso, meu convite é para que você dê um basta em sua angústia. Demita de sua vida quem e o que não lhe faz bem. Pode ser um cliente chato ou um fornecedor desatencioso; um amigo supostamente leal, porém, na verdade, um interesseiro contumaz; ou um amor não correspondido.

Tome iniciativas que você tem protelado. Relacione tarefas pendentes e programe datas para conclusão. Limpe gavetas, elimine arquivos desnecessários. Revise sua agenda de contatos e sua coleção de cartões de visita, rejeitando quem você nem mais conhece.

 

Vá ao encontro de quem você gosta para demonstrar-lhe sua afeição. Peça perdão a quem se diz magoado com você, mesmo acreditando não tê-lo feito. Ofereça flores, uma canção, um abraço e um aperto de mãos.

A vida é breve e parece estar cada vez mais curta porque o tempo escorre-nos pelas mãos.  Compromissos inadiáveis, reuniões intermináveis, trânsito insuportável. Cotidiano que sufoca, reprime, deprime.

Caminhar pelas ruas, admirar a lua, contar estrelas, observar o desenho que as nuvens formam no céu. Encontrar amigos, saborear os alimentos, apreciar os filhos. Escolha ficar mais leve, viver com serenidade. Libere o peso angustiante que carrega em suas costas. Viva, não apenas se deixe viver.

Feliz Natal, Boas Festas e chega de angústia no próximo ano e sempre.

Texto de Tom Coelho (resumido): educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. Visite: www.tomcoelho.com.

Post (316) – Dezembro de 2018