A tese do coelho

Post (0094)

Num lindo e ensolarado dia, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, concentrado.
Pouco depois passou por ali a raposa e viu aquele suculento coelhinho, tão distraído, que chegou a salivar. Ficou intrigada com a atividade do coelho e aproximou-se, curiosa:
– Coelhinho, o que você está fazendo aí tão concentrado? Perguntou.
– Estou redigindo a minha tese de doutorado, disse o coelho sem tirar olhos do trabalho.
– Humm .. . E qual é o tema da sua tese?
– Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais de animais como as raposas.
A raposa fica indignada:
– Ora! Isso é ridículo! Nós é que as raposas é que somos os predadores dos coelhos!
– Absolutamente! Venha comigo a minha toca que eu mostro a minha prova experimental.
O coelho e a raposa entram na toca. Poucos instantes depois se ouve alguns ruídos indecifráveis, alguns grunhidos e depois silêncio. Sem seguida o coelho volta, sozinho, e retoma os trabalhos da sua tese, como se nada tivesse acontecido…
Meia hora depois passa um lobo. Ao ver o apetitoso coelhinho tão distraído agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o lobo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. Resolve saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:
– Oi, jovem coelhinho. O que o faz trabalhar tão arduamente?
– Minha tese de doutorado, seu lobo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais, inclusive dos lobos.
O lobo não se contém e farfalha de risos com a petulância do coelho.
– Ah, ah, ah, ah!! Apetitoso coelhinho! Isto é um despropósito. Nós, os lobos, é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa…
– Desculpe-me, mas se você quiser eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me a minha toca?
O lobo não consegue acreditar na sua boa sorte e desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois se ouve uivos desesperados, ruídos de mastigação e… Silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta à redação da sua tese, como se nada tivesse acontecido…
Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos e pelancas de diversas ex-raposas e restos daquilo que um dia foram lobos. Ao lado da pilha de ossos, um enorme leão, satisfeito, bem alimentado e sonolento, a palitar os dentes.

Moral de história:
– Não importa quão absurdo é o tema de sua tese. Não importa não tem o mínimo fundamento científico. Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria. Não importa nem mesmo se suas ideias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos… O que importa é QUEM É O SEU ORIENTADOR…

Texto de um autor desconhecido.
Uma fábula que ensina uma importante lição sobre a mentalidade acadêmica atual.
NG Canela – Janeiro 2009

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